Sejam bem-vindos amantes da literatura lírica-gótica.
Aqui vós conhecereis um pouco do meu trabalho, o qual se debruça
Sobre a finitude humana e na ilusão de nossa própria existência.
Espero que o vosso vazio seja preenchido pelas sombras de meus simples versos;
E que sejamos um só, na simbiose existencial de nossos momentos tristes.
Poema de n°01
PUTREFAÇÃO
No décimo dia de repouso
Ao findar da célula vencida
Gotejando feito uma infecciosa ferida
Ficará a prepotência humana sobre a lama fétida do seu lodo.
Verei a face do preconceito humano
Em sua infecção suja e necrosante
Rigidamente formoldada e necroteriante
Em meio aos operários subterrâneos.
O homem que humilha os simples e aos seus subordinados,
Mesmo tenha um funeral opulente e bem decorado
Não se livrará da bioquímica das bactérias,
Da rebelião dos bichos que despertarão
Nesta igualdade humana e fabulosa da decomposição,
Na condição universal e fatal que nos separa.
Poema de n°02
SAUDADE DAS TREVAS
Ó trevas de outrora que me escureceu por dentro,
Não deixe-me neste mundo abandonado
Sendo eu mais um humano
Esquecido feito uma folha morta ao vento carbonizado.
Ó trevas de outrora,
vista-me com seu manto obscuro,
Me queime por dentro pouco a pouco
Feito as velas fúnebres dos cadáveres,
Deixando em mim essa tal saudade.
E faça-me de novo seu discípulo,
Seu poeta das trevas invioláveis.
Poema de n°03
A MENINA SE COMUNICAVA COM SERES SOMBRIOS
Dedicado a Letícia Albuquerque
Durante as noites mais sombrias
Quando a luz da lua às nuvens escondia,
A menina em seu leito enfim adormecia.
E durante o seu sono encantado
No silêncio opaco do seu quarto
Às luzes das velas rotineiras,
Surgiam criaturas sombrias para vê-la.
As fechaduras do recinto para ninguém mas abriam.
Cortinas e janelas por dentro escureciam.
Rangia o chão de madeira à longos passos
Quando a escuridão devorava as cores pálidas do quarto.
Na cama pesava o peso sobrenatural das mortas sombras
E já acordad"a menina à luz das velas chamas,
Conversava às risadas com seres do outro mundo
Sobre a proteção cemiterial do céu noturno.
Brincadeiras no secreto quarto aconteciam
Enquanto criaturas sombrias das sombras submergiam.
E ao fim de tais travessuras nebulosas,
Enfeitado por flores mortas das covas;
O quarto cheirava a perfume velorial das virgens mortas.
A menina já fadigada por seu esperado encontro,
Adormecera aos poucos na viagem astral de seu sombrio sono.
E quase às três da madrugada espantosa,
Depois que a menina dormira seu sono merecido,
Dissipavam-se seus mais sombrios amigos
Pelo chão sobrenatural e espiritual que não se mostra.
Poema de n°04
LEMBRANÇA
Irei como os outros-
Sem matéria, sem sonhos
E sem luxúria que não sou dono.
Irei como as flores secas
Que secam em cima dos túmulos
Ao calor do sol fervente
Ao abandono brutal deste mundo.
Irei como os poetas sepultados
Sem o descansar da vida injusta.
Com a ilusão desta vida bruta
Que noites e noites madrugaram.
Irei depois de um sono;
Depois de um infinito sono,
Depois que cair para sempre
Este simples poeta humano.,
Na lama abismal do abandono.
Poema de n°05
NOITE
Noite que guarda-me do dia
Que cria-me como criança
Que cobre a sombra minha
E faz do escuro a minha lembrança.
Noite que vela os velórios
E as lágrimas de muitos outros,
Que aplaude a doce morte
Transformando a minha cova em boa sorte.
Noite que oculta a podridão
Que esconde minha fadiga,
Traga com urgência meu caixão
Tirando-me desta injusta vida.
Noite que balança-me no colo
Fechando essas duas pálpebras,
Ensina-me o caminho do descanso
Fazendo de minha morte a minha pátria.
Noite que vem dos precipícios
Mais profundos; cega-me para a luz deste mundo
E prepare-me para meu sono
Um lindo e eterno túmulo.
Noite que vem das regiões mais altas;
Transforma o nascer do sol em meu pesadelo
E a luz do dia em minha desgraça.
Noite que vem para buscar-me.
Leve também estes mortos versos
E recita-os como cânticos de morte
Para as almas penitentes no inferno.
Poema de n°06
VERSOS PARA UMA POETISA SOMBRIA
Para minha amiga e poetisa: Débora Eslayne
Perto dos teus versos eu me curvo;
E sendo eu um poeta de carne e ossos;
Não consigo medir a imensidão
De tuas trevas invioláveis.
Lembro-me que com tuas pálidas mãos,
Tu escreveste-me um dia,
E ao lê teus versos tão sombrios:
Tão escuros quanto o manto da noite;
Eu cair feito os anjos do entardecer,
Tomando para mim, tua defunta noite ao anoitecer.
Através dos góticos versos teus,
Tu encheste-me absolutamente de trevas.
E eu que já tinha me esquecido da noite,
De como era ter pulsando sobre mim o crepúsculo...
Tu despertou novamente em mim as tumbas;
E os versos sombrios do depauperamento,
Com tua poesia deslumbrante
Que me fez novamente respirar o ar dos mortos,
Os quais eu tinha comigo antes.
Poema de n°07
A MEIA NOITE UM POEMA
Sobre as asas do anjo da tristeza
Sobre as falecidas lágrimas humanas;
Refugia-se minha alma atormentada
Onde o paralelo é o puro realismo espiritual.
Nada escapa aos olhos sombrios
Nada somos aos olhos dos anjos caídos.
Poema de n°08
PEQUENA REFLEXÃO SOBRE UMA PÁLIDA FACE
Para Indiane Oliveira Filho. Falecida a 09/03/2007.Citada em meu 2° livro.
Ao fim da triste tarde quando todos choravam a sua perda,
Eu entrei na escuridão da grande casa para vê-la.
A luz do lustre no teto estava fraca
Por isso também as luzes mórbidas dos candelabros clareavam.
Parentes e amigos consolavam uns aos outros,
Enquanto eu me aproximava do aberto caixão pouco a pouco.
Pude ver a pálida face da jovem falecida
Junto as frias flores deitadas e esquecidas.
Não há forças quando se esfria o corpo.
Familiares e amigos até pediam por socorro;
E mesmo amando a querida jovem falecida,
Não poderiam mais ficar com tal beleza quando se tinha vida.
E depois do sepultamento doloroso
Só as lembranças e a saudade ficam um pouco;
Até serem consumidas pelo tempo: o pouco que temos e somos.
E ao saí do triste velório escrevi este poema,
Para sempre lembrar-me de que nada somos.
Poema de n°09
CLAVE DE SOL EM NOTAS MORTAS
Hei agora minhas mãos de terras.
Do nada ao vazio,
Das sementes dos tempos ausentes
Das velas em chamas
Do fogo ardente
Do pecado presente
Da carne que sente
Ao inferno impenitente.
As boas nuvens que passam
Neste meu jardim seco não param.
Voam aos horizontes do nada.
Belas vans palavras sepultadas.
Sombras/esperanças dissipadas,
Ao grito humano grifadas
A porta do velório enterradas.
Poema de n°10
EXISTÊNCIA SEM VIDA
A penúria que veste-me a vida
Dá-me como porta de partida,
Uma lágrima ferida.
Rastejo-me como trapo ao avesso do pó.
Do inferno sou herdeiro, sou criança,
Sou brinquedo da vida, sou a valsa negra da dança.
Sou blasfêmia, sou "vítima ao extremo"
Ao pó retornarei feito as larvas famintas,
Que o fogo do inferno
Consuma os jogadores do meu destino,
Pois amargura é alegria aos olhos deste menino.
Sou apenas um anjo sem asas, uma criança abandonada…
Mais nada.
Poema de n°11
ROSAS DEFUNTAS
Há no abismo as ruas
E sobre as ruas obsedadas
Existem sombras defuntas dos fantasmas.
Há sobre as ruas a penumbra
E no interior desta mesma penumbra,
Há jardins sem vida alguma.
Brotam dos jardins do abismo
As belíssimas flores sem faces,
Plantadas no precipício dos mortos;
Cultuadas/festejadas/invejadas
Pelas poetisas desencarnadas.
Os seus perfumes lembram-me as mortalhas,
As cedas virgens das vestiduras sepulcrais mofadas.
Ó! pétalas sombrias do abismo!
Da cor escura das ruas do meu destino.
Ó! flores defuntas que me encantam!
Que sonhas o meu sonho de criança
Que enfeita a matéria tênue que descansa.
Poema de n°12
A BEIRA DO ABISMO O POETA RECITA
Da vida sou o feto esquecido
E dentro do ventre da existência
Fui jogado ao leito amargo da angústia apodrecido,
Sendo devorado pouco a pouco
Pelos dentes ferozes do meu sombrio destino.
Mas erguendo-me do pó desfalecido!
Visto-me da armadura sombria!
E enquanto houver luta a ser vencida,
Eu lutarei contra esta vida injusta
E contra as dores desta carne cadavericida apodrecida.
E quando o beijo da morte me tocar;
Eu poeta dos cemitérios esquecidos,
Cairei como uma folha ressequida
E então direi para esta espinhosa vida:
Pegai este envelope de madeira.
Eu te apresentarei para o teu banquete
O meu corpo frio, malcheiroso e podre sobre a úmida bandeja.
Poema de n°13
POEMA SACRO
Por que não ouve-me Ò Deus
Quando eu te clamo?
Quando de joelhos
Ao meu quarto eu te chamo?
E será que só as trevas me ouvem?
Ò Deus dos desgraçados!
Dos poetas mortos enterrados,
Esquecei por um minuto
A podridão dos meus pecados.
Eu já tenho a vida Ó! Deus
Por total penitência.
Por minha culpa cometida
Por estes pecados humanos
Por minha fé ressequida.
Escutai Ó! Senhor o meu clamor;
E esquecei por um minuto
A podridão dos meus pecados,
E eu te verei do outro lado-
Com essa inferior acusação: pois tu és o único culpado
Por toda essa vida ter criado.
Poema de n°14
PIEDADE
(Poema dedicado ao cemitério N. S. da Piedade)
Que eficaz geometria mortuária tu tens.
Onde imerge as mais lindas mortalhas já enterradas,
Onde descansa de seus corpos as almas fadigadas.
Teus muros para mim são fortalezas
Onde decepam as lágrimas dos cílios.
Tua sabedoria se oculta aos olhos humanos,
Implantada as margens de um violento mundo
Sem escrúpulos e em total abandono.
A paz encontra-se aqui Ó! Senhor das almas
E dos corpos recém-chegados!
Pai do humilde, do assassino, do psicopata e dos pastores.
Senhor da podridão que o mundo rejeita.
Piedade é teu nome e interlocutores teus admiradores.
Piedade é teu nome e eterna morada minha.
Andar por teus esquadros é mergulhar ao fundo da alma.
É meditar nos acertos e nos erros do monstro cotidiano.
É imergir incessantemente dentro de um inadiável desvelo.
Piedade é teu nome e inorgânicos teus enterrados,
Piedade é teu nome e orgânicos os que visita-te.
Piedade é teu nome!
Poema de n°15
SINFONIA PARA ORGÃO E ORGÃO
Meu chorar é meu desabafo
É o êxtase do meu sofrimento infinito
E isto é tudo que tenho.
E ao chorar sinto-me leve.
Sinto-me melhor a cada dia
A cada despertar de cada noite tão sombria.
E se os vermes pudessem avançar
Nesta plácida morte descansada,
Enquanto cantas tu, Ó! minha cova.
Ó! orifícios paralelos de meu descanso eterno.
Que entre nesta casa e veja-me de mãos postas.
Que a morte divirta-se com meu corpo
e com essa dor que um dia se tornará outrora.
Ó! morte prazerosa, ó! morte prazerosa!.
Poema de n°16
O ULTIMO ROSTO QUE QUERIA VER ANTES DA PARTIDA
Para Bruna .Nascimento
O ultimo rosto que queria ver antes da partida
E tocar-lhe os lábios de fada que nunca toquei na vida,
Seria teus lábios e teu rosto.
Anjo belo que me apareceu cantando
Em meu jardim sem flores que já morreram tanto.
Mas sei que de beleza
Só tenho a dum esqueleto infame seco,
Por isso nunca terei tal felicidade,
Na doçura divinal,
De provar de teus delicados beijos.
Por ti já sinto um enorme sentimento,
Mas sei quando fecharem-se meus lábios inteiros,
Tu não irás ao menos ao meu frio sepultamento.
Mesmo assim, na lembrança da bela imagem que me fascina,
Teu rosto seria o ultimo rosto
Que gostaria de ver antes da minha partida.
Poema de n°17
SONHO NUPCIAL
Para Adriana Emídio
Lembro-me
De teu desejo insano.
Estupendo! desejo insano!
De casar-se ao sagrado solo,
Na capela sepulcral
Onde descansa os ocos crânios.
Lembro-me
Ao te ouvir falar de tal vontade,
Pegue-me a te imaginar
Com uma escura mortalha
Para teu majestoso sonho emfim realizar.
Teu vestido
Seria o lutuoso véu das virgens mortas,
E os mortos celebrariam o teu dia de glória
Sobre a tarde alegre que já te esperava,
Em meio as coroas de flores
Que enfeitara as diversas covas rasas.
Todos os direitos reservados.
Cícero Viturinno.